Valor Online
Nelson Niero
Os auditores, alvo preferido das críticas quando estoura algum escândalo empresarial, querem ter mais força política para defender seus interesses.
Ontem, eles elegeram a nova diretoria do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon) com a missão de dar mais poder à profissão. Um dos pontos que devem entrar na ordem do dia é a definição (e conseqüente limitação) da responsabilidade do auditor, tema já em discussão no exterior.
Os responsáveis pelo parecer que valida os números dos balanços das companhias com ações em bolsa entram facilmente na linha de tiro e não mostram poder de reação como, por exemplo, os advogados. A Arthur Andersen, uma das então cinco maiores firmas do setor, quebrou depois que o escândalo Enron veio à tona. Posteriormente, a auditoria, já fora de operação, foi absolvida pela Justiça.
Ana María Elorrieta, sócia da PwC, é a nova presidenta executiva, no lugar de Francisco Papellas Filho, da Deloitte. No entanto, a novidade foi a eleição do presidente do conselho, órgão criado em novembro do ano passado, num processo de mudança estatutária que vem se desenrolando há cerca de de quatro anos.
"O conselho vai ser responsável pela visão estratégica", diz Pedro Melo, presidente da KPMG e eleito ontem o primeiro presidente do novo órgão. "Vamos estabelecer as prioridades, que envolvem as questões de mercado, os riscos profissionais e o ambiente regulatório."
Melo, que concorreu como Pedro Farah, da Ernst & Young, e Eduardo Pocetti, da BDO Trevisan, afirma que o objetivo é o "fortalecimento da profissão". O conselho, formado por 16 membros, é crucial nessa estratégia porque é formado por líderes das principais firmas do setor.
"O Ibracon era um órgão eminentemente técnico", lembra Ana Maria. "Agora ela ganha mais peso e relevância com o conselho."
O Ibracon reúne cerca de 5 mil sócios, que representam a elite dos contadores - aqueles mais diretamente envolvidos na governança de empresas de capital aberto. Até recentemente, o órgão era, na prática, o responsável pela elaboração das normas contábeis, atribuição que passou agora ao recém-criado Comitê de Pronunciamentos Contábeis.
A reformulação do Ibracon chega num momento de mudanças importantes no ambiente contábil, com a convergência às normas internacionais de contabilidade. Ao mesmo tempo, os auditores vêm discutindo também a harmonização com padrões de auditoria em vigor na Europa e Estados Unidos.
A primeira reunião do conselho está marcada para o dia 22. O mandato é de três anos.