Márcia De Chiara
Valorização pode trazer alívio para exportadores de manufaturados, mas nas commodities as perdas continuam
O dólar poderá atingir R$ 2 dentro de três meses e dar alívio aos exportadores de produtos manufaturados que, nos últimos tempos, estão sendo afetados pela forte valorização do real em relação à moeda americana, prevê o diretor de Relações Internacionais e de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti da Fonseca. Ontem, o dólar encerrou o dia em alta de 0,33%, cotado a R$ 1,82.
Já para os exportadores de commodities agrícolas e metálicas, nem mesmo a valorização do câmbio deve atenuar as perdas porque os preços em dólar dessas matérias-primas estão caindo no mercado internacional em razão da desaceleração da economia mundial. “No caso dos exportadores de commodities, é como trocar seis por meia dúzia”, afirma Giannetti da Fonseca, fazendo referência aos ganhos proporcionados pela valorização do câmbio e às perdas provocadas pelos preços em dólar dos grãos e dos minérios.
Segundo ele, ainda é muito cedo para dizer que a recente recuperação do dólar se trata de uma tendência. “O mercado está muito volátil”, diz o diretor da Fiesp. Ele observa que a percepção de risco aumentou e os investidores estão resgatando hoje investimentos feitos no Brasil para cobrir prejuízos lá fora. Esse movimento, na sua opinião, deverá aumentar nas próximas semanas. “Há uma pressão clara para que o capital retorne aos países de origem.
É exatamente essa saída de capital financeiro que deve provocar a valorização crescente do dólar em relação ao real, levando a moeda americana para perto de R$ 2, segundo as suas previsões.
INVERSÃO
De toda forma, Giannetti da Fonseca pondera que esse cenário poderá se inverter. Analistas, por exemplo, não mexeram nas previsões de que o dólar encerre o ano cotado em R$ 1,65. O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, é outro especialista que também considera a possibilidade de inversão do cenário atual.
Passadas as turbulências, Castro acredita que o Brasil pode voltar a atrair investimentos estrangeiros no mercado financeiro porque o País tem uma taxa básica de juros alta, hoje em 13,75% ao ano, e é tido no cenário internacional como um porto seguro para as aplicações financeiras. “Temos segurança de pelo menos um ano”, afirma o vice-presidente da AEB, levando em conta os US$ 205 bilhões de reservas cambiais disponíveis atualmente.
Para Castro, o recente movimento de recuperação do câmbio “melhora um pouquinho” a situação dos exportadores, que um mês atrás fechavam contratos com o dólar em R$ 1,56, a menor cotação dos últimos tempos. “Mas essa recuperação não soluciona o problema”, diz.Ele não descarta a possibilidade de o dólar chegar a R$ 2, porém dúvida de que esse movimento seja sustentável. “A recuperação do câmbio ocorre por causa de fatores externos.