A insatisfação no trabalho vem atingindo níveis preocupantes no nosso país, elevando os índices de turnover e, consequentemente, ocasionando um efeito cascata de prejuízos ao desempenho corporativo. Desencadeado, principalmente, por uma postura mais ativa dos profissionais frente a oportunidades mais aderentes a seus planos de carreira e outras metas, as empresas precisam compreender a fundo estes motivos para que consigam reter estes talentos e assegurar que estejam felizes no ambiente corporativo.
O cenário foi identificado com base em dados recentes divulgados em uma pesquisa do LinkedIn, a qual relatou que 75% dos profissionais brasileiros estão considerando mudar de emprego este ano. A nível global, ficamos atrás apenas dos Estados Unidos (85%), mas em linha com o Reino Unido (75%), e seguido pela Irlanda (73%) e Alemanha (71%).
Dentre as justificativas para essas mudanças, o estudo destacou a necessidade de salários mais altos (44%), o desejo de um melhor equilíbrio entre a vida profissional e pessoal (29%), e a confiança em suas habilidades (21%). Todos, desencadeados pela quebra da expectativa de possibilidades de crescimento na empresa atual frente à maior rigorosidade dos profissionais em suas ambições no mercado.
Seja por melhores oportunidades de crescimento, salários maiores, novos desafios ou melhores benefícios, a busca por outras vagas acaba sendo entendida como a melhor solução para conquistarem estes sonhos, ao invés de tentarem adquirir isso no cargo atual. E, apesar desta dificuldade de evolução em um empreendimento ser, de fato, algo comum de ser visto, nem sempre tenderá a ser solucionado em uma outra vaga.
Existe uma armadilha bastante frequente no mercado que acaba capturando muitos profissionais neste sentido, fazendo com que continuem frustrados em seu crescimento profissional mesmo após mudar de CNPJ. Na prática, essa ilusão acontece, dentre tantos fatores, pela falta de autoconhecimento sobre seus pontos fortes e fracos.
A ambição e a terceirização das próprias frustrações são dois movimentos perigosos que podem induzir a mudanças profissionais de forma equivocada, o que não apenas dificultará ainda mais que entrem em um empreendimento no qual se sintam aderentes e satisfeitos, como também elevará as chances de danificar sua imagem no mercado. Afinal, talentos com uma alta rotatividade e que permanecem em um empregador por ciclos curtos, muito provavelmente, não será bem-visto pelos recrutadores.
Toda carreira tem um timing mais adequado para acontecer, e possui sua janela a ser aproveitada. Isso faz com que, apesar de não existir um tempo regrado para que cada profissional permaneça em uma empresa, há uma premissa ideal de três anos em função. Ou seja, se um trabalhador permanece em uma companhia por menos tempo do que isso e, ainda, tende a repetir este padrão em outras contratantes, sua reputação, certamente, será cada vez mais prejudicada.
Isso será ainda mais prejudicial em posições de alta gerência, como os C-Levels, onde essa rotatividade piora a imagem dos profissionais em seu segmento. E, para evitar esses prejuízos, a melhor opção sempre será priorizar uma dose elevada de autoconhecimento, compreendendo onde cada profissional deseja chegar em sua carreira e o que espera das contratantes neste sentido.
Quando compreendemos com clareza nossas aspirações profissionais, fica mais fácil identificar qual empresa poderá contribuir com essas metas e fornecer o espaço apropriado para que possamos crescer e nos destacar. Com isso, além de ficarmos mais satisfeitos em nossas responsabilidades, tenderemos a permanecer por mais tempo naquele local, motivados a conquistar resultados cada vez melhores que beneficiem todos os envolvidos.
Hoje em dia, dificilmente, um profissional construirá uma carreira em apenas uma empresa, como era usual de ser visto antigamente. Estamos em uma outra realidade corporativa, muito mais dinâmica e pautada pelo poder de negociação dos talentos. Todos estão abertos a avaliar uma oportunidade de emprego e conversar sobre suas expectativas – então, cabe a cada um de nós ter claro em mente quais as nossas metas, e buscar pelo negócio onde possamos evoluir juntos.
Ricardo Haag – sócio da Wide, consultoria boutique de recrutamento e seleção.