O real perdeu o posto de moeda mais desejada do mundo. Essa é a conclusão de um estudo técnico feito para avaliar o comportamento da moeda brasileira não só ante o dólar, mas em comparação a uma série e divisas como euro, peso mexicano e dólar australiano.
Quem conduziu o estudo foi o analista técnico da MyCAP, home broker da Icap Brasil, Raphael Figueredo, que estava intrigado com o comportamento da moeda brasileira.
O analista avaliou a relação dólar versus real e constatou que a moeda americana rompeu uma linha de tendência de baixa de dez anos de existência. "Toda a valorização do real dos últimos dez anos estaria comprometida", diz o especialista.
Figueredo também avaliou o comportamento do real com relação a outras moedas e na grande maioria das comparações essa linha de tendência também foi rompida. O estudo completo pode ser acessado no raphaelfigueredo.com.
A ponderação de Figueredo é que esse movimento técnico ainda carece de confirmação.
As questões fundamentais que influem sobre o preço da moeda são muitas e de combinações complexas, como taxa de juros doméstica, medidas do governo, preço de commodities e percepção de risco dos investidores.
Depois de começar o ano como destaque de alta, desde março o real é a única moeda que perde para o dólar no acumulado do ano considerando uma cesta com divisas emergentes e desenvolvidas. Em 12 meses o quadro se repete.
Ontem, o dólar completou o quinto pregão de alta ao avançar 0,94%, para R$ 1,925, maior cotação desde julho de 2009.
Na pauta do dia, o aumento da incerteza externa se aliou a um desarme nas taxas futuras, que recuaram conforme cresceu a expectativa de que o governo vai mudar as regras da poupança. Isso abriria espaço para novas reduções na Selic. E quanto menor o juro doméstico, menos atrativas as operações de "carry trade" (arbitragem de taxa de juros).
Para o economista e professor da PUC-Rio, André Cabus Klotzle, uma série de fatores conspira para a valorização do dólar, que pode chegar a romper a linha de R$ 2,0 no curto prazo.
Entre os fatores destacados pelo especialista está a grande incerteza por parte do investidor estrangeiro em relação à recente ingerência política sobre a taxa de juros, spread bancário e intervenção cambial.
"A percepção é que a política econômica mudou e a equipe que a conduz busca um "atalho" para a ordem natural das coisas. Em vez de realizar as reformas estruturais necessárias a uma queda consistente dos juros, optou-se por "forçar" a redução da taxa básica", explica.
Outro ponto citado pelo especialista é que o BC parece disposto a seguir a retórica da equipe econômica, e potencializar a alta do dólar.
"Parece que foi abandonada qualquer estratégia de suavização do movimento de alta, e a nova ordem é deixar o câmbio solto e sempre para cima, seja com movimentos graduais ou mesmo bruscos como os observados nos últimos dias", conclui.