Se ainda existia alguma dúvida de que o atual ciclo de aperto monetário chegou ao fim, ela não existe mais. Pelo menos é essa a sinalização dada pelo mercado de juros futuros e títulos públicos. No pregão de ontem, os contratos de juros futuros voltaram a cair.
Chamou atenção a grande liquidez no contrato de outubro de 2010, que concentrou mais de um terço dos negócios e das apostas sobre o que o Comitê de Política Monetária (Copom) fará na reunião de 1º de setembro. O contrato caiu 0,02 ponto, e fechou a 10,67%.
Segundo o sócio da Platina Investimentos, Marco Franklin, já havia vários sinais apontando para a estabilidade da Selic em 10,75%, a começar pela própria ata do Copom e as declarações recentes do presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles. Segundo Franklin, após a manchete de ontem do Valor, mostrando que a inflação abaixo do previsto deve encerrar a alta de juros, ficou ainda mais claro que a probabilidade de alta está próxima de zero. O economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal, também compartilha dessa visão e aposta na manutenção da taxa.
Os vencimentos mais longos dos contratos no mercado futuro de juros também indicam um movimento de baixa nas taxas. O contrato com vencimento em janeiro 2012, por exemplo, fechou em queda de 0,04 ponto, a 11, 22%, a menor taxa do ano.
Mas não poderia ser diferente, diz Franklin, pois não faz muito sentido esperar que o BC retome o aperto monetário em 2011.
Historicamente, lembra o sócio da Platina, quando o BC interrompe um ciclo de alta é porque a taxa está em patamar suficiente. Então, provavelmente, o próximo movimento é de queda na taxa básica.
"Assim que o fim do ciclo for confirmado e conforme forem saindo dados mostrando que a inflação converge para a meta e a atividade roda em ritmo mais sustentável, essa curva vai fechar mais", diz o especialista.
Já Leal, do ABC Brasil, não descarta que o mercado passe a trabalhar com queda da Selic em 2011, mas ainda existem muitas interrogações que devem impedir uma aposta maciça nisso.
Para o economista, duas coisas têm que acontecer antes se pensar em juros mais baixos. Primeiro, qual será a nova diretoria do Banco Central.
Segundo, qual será o nível de atividade no mercado externo. "Se continuar essa expectativa de juros baixos no mundo todo, vai ser difícil ver a curva empinar por aqui."
Outro ponto de interrogação que permeia o cenário é o preço das commodities. Para Leal, o BC está correto em pensar em influência deflacionária via matérias-primas, mas as commodities podem se comprar como ativo de risco, gerando até bolhas de preços, o que, obviamente, prejudicaria a inflação.