Com a ajuda da produção de automóveis e do segmento de metalurgia básica, a produção industrial cresceu 1,1% em abril na comparação com março, dando indicações de uma retomada no nível da atividade, embora de forma mais lenta do a esperada pelo mercado. Mesmo com a alta, o relatório Focus, do Banco Central (BC), mostra que as expectativas dos analistas do mercado financeiro para a produção industrial em 2009 ampliou a queda de 4,26% para 4,5%.
"Esperávamos um desempenho em 'V' bem pronunciado. Talvez a gente passe por um 'U', com um vale não tão longo como lá fora", disse o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal – um "V" representa uma queda brusca, seguida de uma rápida recuperação. Já o "U" indica queda, com um tempo maior para a retomada do crescimento econômico.
Todas as categorias de uso pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registraram resultados positivos na produção industrial em abril, ante março: os bens de capital (2,6%); os intermediários (1,1%); de consumo duráveis (2,7%) e de consumo semi e não duráveis (0,3%).
Os destaques ficaram com a fabricação de veículos automotores e de metalurgia básica. A primeira cresceu 3,3% em abril, em relação a março, mês no qual já havia registrado expansão de 6,8%, na comparação com fevereiro. A segunda passou de uma queda de 2% em março, ante fevereiro, para uma alta de 5,1% em abril, em relação a março.
Embora o resultado tenha sido positivo na evolução mensal, a comparação com abril do ano passado mostra o estrago feito pela crise internacional na atividade fabril: houve queda de 14,8%. No quadrimestre, a retração foi de 14,7%, a pior para o período desde o início da série histórica, em 1991.
Houve queda em todas as categorias de uso na comparação com abril do ano passado, com destaque para os bens de capital (-29,3%), seguido pelos de consumo duráveis (-21,6%), intermediários (-15,5%) e de consumo semi e não duráveis (-4,2%). Nessa base de comparação, houve retração de 24,9% na produção de veículos e 27,9% na metalurgia básica.
Dois lados – "Estamos ainda com uma volatilidade que indica um resultado ruim para o final do ano", afirma o economista-chefe da Ativa Corretora, Arthur Carvalho, que projeta queda de 4,8% para a produção industrial neste ano. Para essa situação se reverter seriam necessárias taxas de crescimento muito elevadas nos próximos meses, o que não deve ocorrer. E isso deverá influenciar negativamente o Produto Interno Bruto (PIB), especialmente pela ótica da oferta. Para Carvalho, o PIB deverá encerrar este ano com uma queda de 1%.
Para a economista da coordenação de indústria do IBGE, Isabella Nunes, os dados "confirmam uma recuperação gradual". Segundo ela, ao se comparar os dados de abril com dezembro do ano passado, a produção industrial cresceu 6,2%, puxada pelos bens de consumo duráveis, que aumentou 57,8% nesse período, sob o impacto dos veículos automotores. Este segmento, por sua vez, teve alta de 61,1%, concentrada nos automóveis.
Segundo Isabella, os duráveis já recuperaram a perda de 48,7% acumulada entre outubro e dezembro do ano passado, mas ainda estão distantes do pico de 2008. Para ela, a queda de 14,8% em abril em relação a igual mês do ano passado foi influenciada por uma base de comparação muito elevada, agravada pelo efeito calendário – abril de 2008 teve um dia útil a mais do que em 2009. "Devemos lembrar ainda que a indústria registrou picos históricos no ano passado."
Sinal de alerta – Segundo Isabella, a queda 29,3% na produção de bens de capital em abril em relação a igual mês de 2008 representa o pior resultado para essa categoria desde marco de 1996. Já a de bens de capital para a indústria caíram 36,9% no mesmo período, o pior resultado para o segmento desde o início da série da pesquisa, em 1991.
Para a economista do IBGE, o aumento de 2,6% na produção de bens de capital em abril ante março é pontual e está longe de mostrar uma recuperação nessa categoria. "É natural que a recuperação nesse segmento seja mais lenta, porque envolve grandes investimentos. "E eles foram retardados porque a confiança do empresariado reage lentamente."
Já para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, o desempenho foi favorável para o segmento de bens de capital. "O fundo do poço foi atingido na virada do ano passado para este ano e essa questão já saiu das conversas. A grande discussão, agora, é a velocidade da recuperação da indústria, que está sendo mais lenta do que a esperada pelo mercado quando viu o tamanho do buraco", analisou Souza Leal.
A alta de 1,1% na produção industrial de abril em relação a março foi maior que o crescimento de 0,5% previsto pelo ABC Brasil. "Sem dúvida, foi um bom número, não só porque veio acima da expectativa do mercado, mas também pelo fato de a fabricação de bens de capital ter aumentado. Além disso, todos os grupos apresentaram um comportamento homogêneo de crescimento." "Foi a primeira vez, desde o início da crise, que todas as categorias registraram expansão em relação ao mês anterior." Souza Leal aguarda um novo resultado positivo em maio. Mas, para 2009, o banco ainda trabalha com a perspectiva de retração na produção industria.. "Esperamos uma queda de 4% a 4,5%", afirmou.