Francisco Góes, Rafael Rosas* e Catherine Vieira
Governo e economistas concordaram ontem, durante o 21º Fórum Nacional, no Rio, que o Brasil, apesar de ter sido atingido pela crise econômica mundial, mostra sinais de recuperação e poderá sair da recessão antes dos países desenvolvidos. Houve apoio a medidas anticíclicas adotadas, como aumento do gasto público e redução de impostos e dos juros, para voltar a acelerar a economia. Ao mesmo tempo surgiram críticas, como a do ex-presidente do Banco central Affonso Celso Pastore, para quem a resposta mais eficaz para tirar a economia da recessão em ritmo mais acelerado seria pelo aumento do gasto em infraestrutura - e não em pessoal - como forma de elevar a demanda por bens de capital e matérias-primas.
Empresários que participaram de painel do fórum que discutiu a superação de obstáculos e as oportunidades na crise, aproveitaram para cobrar do governo reformas estruturais.
Jorge Gerdau Johannpeter, presidente da Ação Empresarial, defendeu que o governo zere os impostos sobre o capital imobilizado para o setor produtivo. Ele disse que as empresas que integram cadeias produtivas, como a minerosiderúrgica, pagam todos os impostos, mas terminam oneradas, porque o sistema de créditos e débitos não funciona como deveria. "Enquanto no mundo, pelo sistema do imposto sobre valor agregado , o sistema de crédito e débito financeiro é automático, no Brasil existe burocracia que limita e impede esse processo", disse Gerdau, após o painel. Segundo ele, o momento é oportuno para se discutir o assunto, porque se investe pouco hoje no Brasil.
Pastore também analisou de forma crítica a questão do investimento: "O Brasil vai conseguir sair da recessão antes dos países desenvolvidos. Vamos aumentar importações, mas não teremos grandes incentivos na exportação. O que nos resta é buscar o crescimento da economia através da componente interna da demanda: consumo e investimento. Somos todos keynesianos, mas o velho mestre nos ensinou que quem joga o produto para cima é o investimento. O consumo tem efeito multiplicador importante. Quero assumir a roupagem de keynesiano, mas se, de fato, o governo fosse keynesiano ele deveria estar incentivando muito mais o investimento."
Segundo ele, o Brasil tem todas as condições de sair antes da crise, em parte porque os bancos no país continuam funcionando plenamente, enquanto nos países desenvolvidos o sistema bancário foi destruído. "E sem sistema bancário os países não funcionam."
O economista discordou do governo, que comemorou os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), em abril. "O que aconteceu foi destruição de emprego. O dado, antes de ser bom, é muito ruim. Se tirar sazonalidade, o Caged mostra queda na absorção de mão de obra. O governo comemorou errado." Segundo Pastore, existem outros sinais de recuperação, como a produção industrial, que mostra "gradativamente uma lenta recuperação."
O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que a crise não interrompeu o projeto de desenvolvimento do país. "O Brasil não é parte do problema, mas sim parte da solução. Tenho certeza que o Brasil vai sair mais forte desta crise do que estávamos quando ela começou." Ele defendeu o papel anticíclico do Estado como forma de ajudar a retomar o crescimento econômico.
Bernardo negou que o Estado tenha reduzido os investimentos. "Consolidamos a política de aumento dos investimentos, em especial o PAC, na qual fazemos gestão intensiva dos investimentos que consideramos importantes." Ele reconheceu, porém, que a arrecadação de impostos do governo terá redução de R$ 50 bilhões neste ano para uma receita que estava programada em quase R$ 800 bilhões, uma queda de quase 7%.
O ministro creditou a queda não apenas à crise econômica, que diminui a arrecadação, mas também à decisão de reduzir tributos para estimular a atividade econômica. "Caiu a arrecadação mas continuamos com investimentos e fazendo funcionar os programas sociais", disse Bernardo.
Para o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, os investimentos em infraestrutura e em vários segmentos da indústria, sobretudo da cadeia de produção de petróleo e gás, não foram afetados pela crise, como ocorreu com as indústrias produtoras de commodities, que tiveram de postergar planos. De acordo com dados do BNDES, o total de investimento previsto pelas indústrias e pelo setor de infraestrutura continuam aumentando no intervalo de 2009 a 2012.
"Houve um ajuste foi muito forte, então abriu uma ociosidade na indústria que obviamente funcionou como um gatilho para reduzir alguns planos de investimentos, mas o que nós vamos ver daqui para frente é a recuperação do uso de capacidade industrial e o retorno do incentivo ao investimento produtivo", disse Coutinho.