Notícias

CEF corta juros para ampliar o crédito

Mônica Izaguirre A Caixa Econômica Federal promove hoje um corte nos juros de várias de suas linhas de crédito a pessoas físicas e jurídicas. Em alguns produtos há também redução de tarifa. O objetivo é ampliar a fatia de mercado da instituição no sistema financeiro, aproveitando melhor a oportunidade que surgiu após a crise de liquidez e a consequente retração da oferta de empréstimos e financiamentos pelos bancos privados. Ruy Baron / Valor Maria Fernanda Coelho, presidente da Caixa: hora de crescer e de ocupar pelo menos parte do espaço aberto por outras instituições bancárias, quando reduziram ou cortaram temporariamente suas linhas Pesou na decisão o efeito das recentes mudanças promovidas pelo Conselho Monetário Nacional nas regras de requerimento de capital próprio do sistema, relativamente ao seu volume de ativos. No caso da Caixa, elas permitem ampliar em até R$ 70 bilhões o saldo da carteira de crédito, informou a presidente da estatal, Maria Fernanda Coelho, em entrevista ao Valor. Sob o ponto de vista do capital requerido, o volume de ativos poderá crescer porque, com as novas normas, haverá elevação de R$ 4,5 bilhões na diferença entre o patrimônio de referência (PR) do banco e o patrimônio de referência mínimo dele exigido (PRE). "Esta é a hora de crescer", disse ainda Maria Fernanda, defendendo a necessidade de que o banco ocupe pelo menos parte do espaço aberto por outras instituições bancárias, quando reduziram ou cortaram temporariamente suas linhas, em função da crise. A expectativa é de que, com juros mais atrativos, em 2009, a Caixa consiga aumentar em 30% o saldo de sua carteira de crédito comercial (exclui habitação e saneamento), que deverá encerrar 2008 próxima de R$ 28,5 bilhões. Embora represente desaceleração em relação a 2008, esse é um ritmo de expansão superior ao esperado para o conjunto do sistema financeiro, cujo saldo das operações deverá subir 20% no próximo ano. Maria Fernanda admite que a redução de juros decorre, em parte, da decisão do governo federal de usar seus bancos para amenizar efeitos da crise financeira. Mas ela ressalta que, paralelamente ao interesse governamental, existe interesse genuinamente empresarial da Caixa em aproveitar uma série de fatores que favorecem planos mais ousados de participação em outros segmentos do mercado de crédito além do imobiliário, onde já é líder. Atualmente, a Caixa tem cerca de 3,5% do volume de crédito comercial do sistema financeiro. A meta é chegar a 2015 com 11%. Na visão da diretoria da instituição, o momento da economia brasileira e a situação da Caixa, sob diversos aspectos, entre eles a capacidade patrimonial, recomendam expansão da carteira de empréstimos e financiamentos a empresas e pessoas físicas. A crise financeira acabou se mostrando janela de oportunidade para a Caixa, ao gerar migração de depósitos para bancos federais, vistos, nesses momentos, como mais sólidos e seguros. Nos primeiros oito meses do ano, a instituição captou liquidamente em depósitos à vista, a prazo e em poupança R$ 9,7 bilhões. Do início de setembro a meados de dezembro, período bem menor, portando, foram captados mais R$ 6,2 bilhões, o que indica aumento da média mensal. Com isso, o estoque de depósitos chegou a cerca de R$ 153,3 bilhões, nas três modalidades, reforçando os recursos para crédito. Também em função da crise sobretudo pessoas jurídicas passaram a ter dificuldade de renovar ou tomar crédito para giro e investimentos. O vice-presidente de Controle de Risco da Caixa, Marcos Roberto Vasconcelos, explica que essa clientela passou a ter menos acesso a crédito não porque teve sua classificação de risco rebaixada e sim porque esbarrou numa atitude conservadora dos bancos privados diante da crise. Portanto, esses são clientes que interessam à Caixa, pois permitem expansão da carteira sem aumento de risco. Vasconcelos espera que, com a entrada de empresas maiores na sua base de clientes, a composição de sua carteira por nível de risco até melhore com a expansão pretendida. Até há pouco tempo identificada como banco apenas de pessoas físicas e do micro e pequeno empresariado, a Caixa também está sendo procurada e está conquistando médias e grandes empresas. O exemplo mais relevante é o da Petrobras, cuja operação de crédito agora desperta interesse de outras grandes corporações pelo banco federal. Maria Fernanda destaca que, em 2007, a Caixa criou uma vice-presidência voltada para pessoas jurídicas, o que lhe permitiu se estruturar melhor para atender esse público. De março a junho desse ano, cerca de 2.500 gerentes do banco passaram por treinamento intensivo com essa finalidade, conta ela. A instituição acredita que o crescimento médio de 30% esperado em relação a sua carteira de crédito comercial em 2009 será mais concentrado em pessoas jurídicas. Nesse segmento, espera-se incremento de até 35% no saldo, que deve encerrar 2008 em R$ 14,5 bilhões. No segmento de pessoa física, volume deve encerrar o ano em 14% Sob o ponto de vista do fluxo de concessões, o montante emprestado em 2008 também já é maior para as empresas (R$ 33,2 bilhões até semana passada) do que para as pessoas físicas (R$ 30,6 bilhões).