Flávia Furlan Nunes
Que as mulheres estão há muito tempo em desvantagem no mercado de trabalho, traço da história das sociedades, não é nenhuma novidade. A proporção delas em cargos de liderança é menor em determinadas áreas e os salários também são menores. Para se ter uma idéia, serão necessários 87 anos para que os salários dos homens e os das suas companheiras do sexo feminino se igualem, caso as políticas de igualdade de gênero não sejam adotadas.
O dado faz parte de um estudo intitulado "Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça", divulgado nesta terça-feira (16) pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). A boa notícia é que as diferenças têm diminuído, de acordo com a ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Nilcéa Freire.
Lado bom e ruim
Ela reconheceu, porém, que é preciso acelerar o ritmo de implementação de medidas. "Desde as últimas Pnads (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), temos tido notícias boas e más em relação às desigualdades das mulheres. A boa é que existe redução das desigualdades no Brasil. A mais importante seria que diminuiu a diferença salarial entre homens e mulheres", disse.
"A má é que a velocidade não é a que queremos. Se fizermos uma regra de três simples, projetando os dados da Pnad para o futuro, levaríamos 87 anos para superar a diferença salarial entre homens e mulheres", completou ela, de acordo com a Agência Brasil.
História
De acordo com o presidente do Ipea, Marcio Pochmann, as diferenças entre homens e mulheres no mercado de trabalho são conseqüência dos modelos agrícola e pecuário que o País viveu no passado. Para acabar com as desigualdades, é preciso que as afirmativas sejam de Estado, portanto, contínuas, e não apenas dos governos.
Outros dados
Pesquisa publicada pelo Fórum Mundial de Economia revelou que, apesar do mesmo grau de escolaridade entre ambos os sexos, os salários das mulheres brasileiras representam, em média, 58% dos ganhos dos homens.
A explicação para isso, de acordo com o gerente de Comunicação do Grupo Soma, Paulo Ishimaru, pode estar no fato de as mulheres exercerem funções com salários inferiores, em cargos operacionais de forma geral. "Porém, nunca nos deparamos com empresas solicitando o recrutamento e a seleção de mulheres pelo fato de elas receberem menos", afirmou.
O estudo do Ipea, por exemplo, cita a desvalorização das atividades domésticas, consideradas não somente como atribuição feminina, mas também como trabalho de pouco valor social e nenhum valor econômico. "A noção de trabalho deveria ser alterada, para que todo o trabalho doméstico não-remunerado - indispensável para a perpetuação da sociedade e o bem-estar de seus integrantes - possa ser considerado como tal", diz o estudo.