Andrea Vialli
Ao longo de três anos, um grupo de 108 pequenas e médias empresas (PMEs) que fazem parte da cadeia de fornecimento de grandes companhias receberam treinamento para pôr em prática uma nova demanda no mundo dos negócios: a gestão com foco em sustentabilidade. A fórmula foi posta em prática pelo programa Tear, iniciativa do Instituto Ethos e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), orçada em US$ 2,6 milhões e que acaba de ser concluída.
Foram escolhidas nove companhias, as "empresas-âncora" - Santelisa Vale, Camargo Corrêa, Y. Takaoka e Gafisa, CPFL Energia, Vale , Petrobrás, ArcelorMittal e Pão de Açúcar -, de setores-chave da economia, para realizar o treinamento com clientes e fornecedores de pequeno porte, cujo faturamento não poderia passar de US$ 5 milhões/ano.
De acordo com Carla Stoicov, coordenadora do programa Tear, os objetivos do programa - melhorar a gestão das PMEs e possibilitar o acesso delas a novos mercados, além de aumentar sua produtividade e competitividade - foram cumpridos. "Essas 108 companhias conseguiram conquistar 130 novos clientes e também 57 fornecedores. Além disso, 66% delas fortaleceram suas relações comerciais com grandes empresas", diz Carla.
A arquiteta Luciana Tomás, sócia do escritório de arquitetura e design de interiores que leva seu nome, conseguiu duplicar o tamanho da empresa. "No início do programa, tínhamos 12 funcionários, e hoje são 24. Estamos construindo uma nova sede e até tivemos de recusar novos projetos", conta.
Fornecedora das incorporadoras Gafisa e Y. Takaoka, a empresa foi convidada a participar do programa e acabou descobrindo um novo nicho para atuar: o da arquitetura "verde", uma tendência forte na atualidade e que usa materiais com baixo impacto ambiental, como madeiras certificadas. "Hoje, buscamos aplicar o conceito em cada novo projeto que realizamos", diz Luciana.
Para as grandes, o programa de treinamento acabou servindo como uma garantia de bons fornecedores. O grupo varejista Pão de Açúcar atuou como "empresa-âncora" no treinamento de nove fazendas que fornecem carne de novilhos e terneiros para a rede, um investimento de R$ 126 mil. "Além da base tecnológica, as fazendas puderam ter acesso a conhecimentos em gestão sustentável. Muitas passaram a ter programas de alfabetização de seus empregados e passaram a investir na recuperação ambiental das propriedades", diz Vagner Giomo, gerente de desenvolvimento do Pão de Açúcar.
O grupo, que colocou, como teste, duas toneladas de "carne sustentável" nas gôndolas no ano passado, espera fechar 2008 com uma produção de 90 toneladas mensais. "O produto vende bem, tanto que vamos seguir com o projeto, que terá um orçamento maior e incluirá 42 novas fazendas de Mato Grosso e Goiás, a partir de janeiro."
De acordo com Carla, do Ethos, os resultados ajudam a derrubar o mito de que sustentabilidade é assunto só para grandes companhias. A entidade decidiu continuar com o projeto, mesmo sem o financiamento do BID. A segunda edição terá início em 2009, e os setores e empresas participantes já estão sendo definidos.