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Despesa financeira come quase a metade dos lucros

Despesas com juros e câmbio consumiram, no terceiro trimestre deste ano, quase a metade dos ganhos operacionais das empresas brasileiras que têm ações negociadas na Bolsa de Valores, segundo estudo da consultoria Economática. No terceiro trimestre, as empresas abertas registraram um lucro operacional bruto (antes de juros, impostos e dividendos) da ordem de R$ 27,791 bilhões, mas acabaram tendo de arcar com despesas com juros e câmbio de inéditos R$ 13,177 bilhões -o que corresponde a 47,41% dos seus ganhos. Historicamente, as despesas ficam sempre abaixo de 10% do resultado operacional bruto. A maior parte dessas despesas diz respeito ao impacto da alta do dólar nas dívidas das companhias e no volume de capital exigido para cobrir posições em instrumentos de proteção cambial de empresas exportadoras, como Sadia e Aracruz. O estudo leva em conta o resultado de 192 empresas, mas exclui Vale, Petrobras e o setor financeiro, que costumam distorcer as amostras. Na conta final, o impacto da variação cambial no resultado dessas empresas foi uma diminuição brutal de 33% nos lucros líquidos, que desabaram de R$ 12,886 bilhões, no terceiro trimestre do ano passado, para R$ 8,652 bilhões no mesmo período deste ano. Se não fosse tal volume de despesas financeiras, essas empresas teriam registrado forte crescimento nos lucros, como vinha acontecendo desde o início do ano passado. Com receitas recordes de R$ 146,765 bilhões, essas empresas conseguiram obter um lucro operacional bruto de R$ 27,791 bilhões, o que também impediu uma maior diluição dos resultados no período. No fim de outubro, ainda antes da atual safra de balanços corporativos, projeções da Economática apontavam que até 70% do lucro operacional das empresas abertas poderia ser destinado à cobertura de despesas financeiras. "Acertamos na sinalização dessa tendência. No plano operacional, as empresas se mantiveram no azul, mas o aumento da despesa financeira foi brutal, subiu R$ 11 bilhões. O crescimento do resultado operacional das empresas ajudou a pagar essa despesa", disse Fernando Exel, presidente da Economática. Alta do dólar "O dólar pegou todo mundo de calças curtas. A sorte é que, até por conta desse período de alta liquidez internacional, as empresas não estavam com um nível de endividamento tão preocupante. No quarto trimestre, o câmbio vai continuar pressionando os resultados", afirmou Ricardo Tadeu Martins, gerente de análise da corretora Planner. Com a variação de 20,3% do dólar entre julho e setembro, as despesas com juros e câmbio saltaram quase cinco vezes -um volume de R$ 10,935 bilhões- os R$ 2,242 bilhões registrados no terceiro trimestre de 2007. Desde o fim de setembro passado, o dólar já subiu mais 18,8%. Para Exel, a diminuição dos lucros no terceiro trimestre é a maior prova de que as empresas fizeram hedge acima de suas necessidades. "Se a proteção fosse equivalente às exportações, o ganho com variação do dólar nas receitas anularia esse aumento de despesa financeira. Não foi o que vimos. Tenho curiosidade em saber como essas empresas mudaram suas estratégias financeiras e vão sair dessa no quarto trimestre. Todas as bombas armadas no terceiro trimestre foram desativadas", afirmou. Segundo Exel, o impacto do câmbio foi consideravelmente maior para as grandes empresas. Isso porque, pela mediana, que exclui as maiores variações da amostra, as despesas financeiras ficaram em 26% do resultado operacional bruto -muito abaixo dos 47% de toda a amostra. Só Aracruz e Gerdau trouxeram despesas financeiras de R$ 1,95 bilhão e R$ 662 milhões, respectivamente. Para Lika Takahashi, estrategista do Banco Fator, os efeitos das operações com derivativos, cambiais ou não, podem mostrar seqüelas nos próximos meses. "Assim como lá fora, aqui houve uma desinibida utilização da imaginação do sistema financeiro. Aracruz e Sadia divulgaram perdas inimagináveis. Acredito que a prudência de preservar a situação financeira poderá ser recompensada pelo mercado", disse. Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, não acredita que o problema com a exposição cambial das empresas tenha sido superdimensionado. "A quantidade de empresas que se meteram nessas operações cambiais está longe do trivial, principalmente pela magnitude de algumas delas. Os riscos a partir de agora pelo câmbio são os impactos inflacionários de curto prazo, que são claros", disse.