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Vendas no varejo ainda resistem à crise

O comércio varejista registrou crescimento de 10,6% nos primeiros oito meses do ano, com expansão de 1,1% em agosto comparado a setembro (com ajuste sazonal), de acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Há perspectivas de que o desempenho no mês de setembro tenha sido mais forte - ignorando os efeitos das turbulências do mercado financeiro na segunda quinzena do mês - por conta do maior número de dias úteis e da recuperação nas vendas do setor automotivo. Os analistas tem dúvidas sobre o tamanho do efeito da crise sobre as vendas no último trimestre do ano. A previsão mais pessimista indica que o comércio pode encerrar o ano com crescimento entre 5,5% e 6,5%, contra 9,7% em 2007. As previsões mais otimistas apontam para uma desaceleração mais lenta, que levaria o crescimento do ano para um percentual entre 8% e 9,9%. Varejistas de diferentes segmentos relatam boas vendas em setembro. Segundo José Domingos Alves, supervisor-geral das Lojas CEM, o aumento das vendas em setembro não foi abalado pela crise financeira e até superou a expectativa de 12%, chegando a 15% em relação ao mesmo período do ano passado. Em relação a outubro, ele se mostra confiante. "Já estamos com 12% de alta em relação ao ano passado", informou. A rede não alterou as condições de pagamento oferecidas e as vendas mantêm o padrão de 70% no crediário, 20% no cartão e 10% à vista. No segmento de materiais de construção, as redes Dicico e Telhanorte também registraram bons resultados em setembro. Na Dicico, o aumento das vendas em setembro foi de 11% em relação à agosto, desempenho atribuído, pela varejista, ao Liquida Já, uma promoção de quatro dias. No acumulado ano, o faturamento subiu 42% em relação a igual período de 2007. Fernando de Castro, diretor-geral da Telhanorte, conta que houve redução momentânea nas vendas durante o mês de setembro, mas "hoje a operação segue apenas pouco abaixo do normal". Segundo ele, o "período de compras de Natal para a Telhanorte começa em setembro e termina por volta de 10 de dezembro. Também não tivemos redução nos pedidos, nas promoções e no investimento em publicidade". Para Cláudio Conz, presidente da Associação Nacional dos Revendedores de Materiais de Construção (Anamaco), o setor de construção pode ser beneficiado pela queda na venda de automóveis e pelo cancelamento de viagens internacionais. "As pessoas não investirão em viagens e carros, e deverão reformar e pintar as casas no fim de ano", diz ele. No ano, diz, o setor deve registrar um crescimento recorde de 10%. "Essa projeção já é uma realidade. E não querendo ser otimista, mas sendo, deveremos manter esse número para 2009." Em outro segmento, as vendas do Armarinhos Fernando, em setembro, mantiveram a expectativa de crescimento de 7% em relação ao mesmo período do ano passado, com 50% dos pagamentos à vista e 50% parcelados, informa Ondamar Ferreira, gerente-geral. "A projeção de 8% de crescimento para o dia das crianças, em relação ao ano passado, também foi alcançada. Para o fim de ano, as lojas estão munidas de brinquedos. As compras de estoques foram realizadas antes da crise, e, portanto, mesmo com essa oscilação do dólar os preços devem ser mantidos para o Natal", explicou ele. Já no segmento de hipermercados e supermercados, que têm peso de 50% no indicador de comércio varejista do IBGE, o desempenho de setembro pode ter sido um pouco mais fraco em função da retomada da alta de preços no fim do mês. "Houve deflação no começo do mês, mas na segunda quinzena a cesta básica voltou a encarecer", observa Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores. Para ele, independentemente dos efeitos da crise externa, as vendas nesse segmento tendem a reduzir o ritmo por conta do aumento de preços que normalmente ocorre no fim do ano. Em agosto, as vendas de hipermercados e supermercados cresceram 1,1% sobre julho com ajuste sazonal. No ano, o segmento cresce 6,1%. Borges prevê para setembro crescimento de 2% sobre agosto, com ajuste sazonal, fruto da expansão nas vendas de veículos. O IBGE apontou para agosto queda de 3,7% em veículos. Fernando Montero, economista-chefe da Convenção Corretora, observa que a queda nas vendas de veículos foi principal fator responsável pela desaceleração na curva de crescimento do varejo ampliado, que apresentou queda de 1,6% em agosto e crescimento de 19,8% no ano. Outro setor que preocupa o economista é o de materiais de construção, que apresentou queda de 1,6% em agosto e, como o setor automotivo, tem seu desempenho ligado à oferta de crédito. Borges, da LCA, acrescenta que, nos primeiros dez dias úteis de outubro, a venda média diária de automóveis apontava queda de 15% sobre a média de setembro (ou de 6% com ajuste sazonal). Nilo Lopes de Macedo, coordenador de Comércio do IBGE, observou que sete dos dez segmentos do varejo pesquisados apresentaram desaceleração no ritmo de vendas e associou esse resultado ao encarecimento do crédito. Entre julho e agosto, disse, o custo médio do crédito pessoal passou de 53,5% ao ano para 54,4% ao ano, enquanto o cheque especial passou de 162,6% ao ano para 166,3% ao ano. Luiz Góes, sócio e diretor de inteligência de mercado da consultoria Gouvêa de Souza & MD, considera que a alta recente do dólar tenderá a causar reajustes nos preços de eletrodomésticos, itens de informática e outros segmentos abastecidos com importados e esse será mais um fator que contribuirá para a desaceleração do varejo. Ele projeta para o ano expansão de 8% do comércio. Emerson Kapaz, diretor do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), tem a projeção mais pessimista para o ano: expansão de 5,5% a 6,5%. "Os segmentos que dependem de cartão de crédito e de financiamento bancário vão sofrer mais daqui para frente", diz. Ele prevê forte desaceleração nos segmentos de móveis e eletrodomésticos, veículos e material de construção em função das restrições maiores ao crédito, e nos segmentos de equipamentos e material para escritório, informática e comunicação pelo câmbio.